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Jornalismo, freelancing, social media... e as estórias por detrás de tudo isto. Por Patrícia Raimundo

A vida depois do pomodoro

Estou a experimentar a técnica do pomodoro desde quarta-feira e tenho que admiti-lo... parece-me que funciona mesmo!

Não, não há nada de milagroso nisto, nem é impossível conseguir os mesmos níveis de concentração sem o engraçado objecto de cozinha. A verdade é que ter o temporizador ligado ajuda muito a estabelecer uma predisposição para a concentração. O pomodoro dita as regras e temos só que cumpri-las - 25 minutos de trabalho intenso, 5 de descanso - e o nosso cérebro parece gostar disto.

Esta semana tinha um deadline especialmente apertado e mais fontes de distracção que o normal, a altura ideal para testar a técnica ao limite. Comecei pela transcrição de uma entrevista gravada, como sempre faço - cerca de 45 minutos de agradável conversa. Transcrever é, talvez, das piores tarefas que um jornalista tem em mãos e sei que não sou a única a achar isto. Muitos dos meus colegas já desistiram de gravar e muitos daqueles que gravam ainda as entrevistas acabam por transcrever apenas uma parte ou usá-las como mero recurso de emergência. Eu, apesar do masoquismo, faço questão de transcrever a entrevista quase sempre na íntegra. Demoro mais e sofro durante umas boas horas, é certo, mas fico com o trabalho mais organizado para que o artigo flua melhor.

A transcrição é, por isso, um problema. Não é uma tarefa particularmente interessante e é demorada q.b, por isso a concentração torna-se difícil... o que só atrasa ainda mais o processo. Ora, foi aqui que senti os maiores benefícios do pomodoro. Sempre que sentia a tentação de espreitar o mail ou as últimas do Facebook (a cada frase transcrita...), lembrava-me que tinha o temporizador ligado e que aquele era o momento de estar concentrada. Quando o pomodoro soasse, poderia ver tranquilamente um site ou outro ou ir buscar qualquer coisa para comer à cozinha.

À medida que os pomodoros se seguiam, foi cada vez mais fácil manter a concentração. Já não sentia tanta vontade de ver o e-mail ou de inventar uma desculpa qualquer para me levantar da secretária. E a verdade é que, quase sem dar por isso, os 25 minutos passavam, eu fazia a minha pausa (curta, é certo, mas o ideal para não quebrar o ritmo) e o trabalho corria, sem stresses.

É claro que em alguns ciclos de 25 minutos tive de atender uma chamada urgente ou enviar um sms, mas, regra geral, senti-me concentrada e motivada durante todo o processo, o que nem sempre acontece nas transcrições de entrevistas.

A experiência estava a correr bem, mas ainda tinha uma dúvida: seria o pomodoro igualmente eficaz quando chegasse a altura de escrever, propriamente dita? A inspiração tem os seus momentos e existe o terrível bloqueio, tantas vezes difícil de contornar, pensava eu. Não seria contraproducente se, por exemplo, ocorresse um bloqueio durante um pomodoro inteiro? Não seria o temporizador mais uma fonte de pressão e, consequentemente, uma fonte de bloqueios?

Fosse como fosse, estava disposta a experimentar. Nunca poderia apurar a eficácia da técnica com uma tarefa apenas. Abri o ficheiro em branco e cliquei no pequeno pomodoro no cantinho do ecrã.

O começo foi difícil, como, de resto, sempre é, mas, contra todas as expectativas, a famosa técnica ajudou também na fase da escrita pura e dura! Estive sempre mais concentrada e tive menos bloqueios (apesar de o tema do artigo também poder ter ajudado aqui) e em bastante menos tempo que o normal tinha a peça pronta e revista. Nesta fase, porém, fiz algumas cedências que o ritmo de escrita exigia: por vezes já tinham terminado os 25 minutos e eu continuava a escrever para aproveitar o momento. Outras vezes prolonguei a pausa e senti a necessidade de ser mais selectiva nesses momentos. O texto também tem o seu tempo, o que exigiu um pomodoro mais flexível...

Nos próximos tempos a técnica do pomodoro vai estar em teste por estes lados. Meia-dúzia de dias não chegam para dar o veredicto final. Por enquanto, Francesco Cirillo não desilude e o pomodoro conquista pontos de dia para dia. Vamos ver como se sai daqui para a frente.

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