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Jornalismo, freelancing, social media... e as estórias por detrás de tudo isto. Por Patrícia Raimundo

Ter um trabalho paralelo

O último debate entre wannabe hacks vai buscar uma questão muito pertinente que, tenho a certeza, já assombrou muitas cabeças freelancers por aí (a minha incluída): ter um part-time não relacionado com jornalismo é uma perda de tempo?

Ben Whitelaw, o Student, acha que sim. A experiência que teve a trabalhar num café aos sábados e domingos durante a época natalícia, diz, não compensou: o cansaço era muito, a remuneração pouco atractiva e a satisfação pessoal quase inexistente. Para ajudar, em Janeiro estava a fazer mais dinheiro com três artigos como freelancer do que a servir sandes e cafés em três meses.

Tom Clarke, o Chancer, diz compreender as razões do colega, mas acha que ter um trabalho paralelo fora do jornalismo está longe de ser tempo perdido. Também ele fazia um part-time num bar, trabalho que não se arrepende de ter feito: para além de ser uma boa fonte de rendimento - segura e fixa - , era também uma forma de desanuviar um pouco das tensões do meio.

Para mim, qualquer um destes pontos de vista são válidos, até porque reflectem, de facto, experiências. Cada freelancer é um freelancer, com características, necessidades e vidas diferentes. No entanto, inclino-me mais para a visão de Tom Clarke.

Não vejo qualquer inconveniente - muito pelo contrário -, em se conciliar o jornalismo freelance com um part-time ou outro trabalho paralelo, seja dentro ou fora da área, desde que um não atrapalhe o outro. Concordo com o Chancer quando diz que ter um rendimento seguro para pagar a renda deixa mais tempo - e cabeça! - livre para nos concentrarmos naquilo que é realmente importante: fazermos bem o nosso trabalho. Para além de que é uma forma de se ter meios para investir realmente na profissão: há sempre deslocações para reportagens e telefonemas a fazer...

Durante estes anos como freelancer já passei pelas mais variadas situações: já tive um full-time não relacionado com jornalismo enquanto fazia freelance; já trabalhei como jornalista a tempo inteiro num órgão enquanto escrevia como freelancer para outros; já fiz paralelamente part-times e outros trabalhos pontuais dentro e fora da área; já fiz exclusivamente freelancing... Enfim, uma variedade de cenários, uns melhores outros piores, que me fizeram chegar a algumas conclusões:

  • para quem quer investir a sério no freelancing, conciliar esta actividade com um full-time torna-se complicado: o tempo não estica e a corda do cansaço também não. É possível fazê-lo, sobretudo se o trabalho for também em jornalismo, mas nunca é a mesma coisa.
  • viver exclusivamente do freelancing é fantástico quando se consegue ter produtividade e rendimentos suficientes para pagar as contas e deve ser esta a meta a estipular quando se embarca a sério nesta aventura. Porém, até a máquina estar bem oleada, pode ser necessário ter soluções de recurso.
  • uma das melhores formas para se fazer face às incertezas do trabalho por conta própria pode ser, numa primeira fase, manter um part-time ou outro trabalho paralelo que garanta o income necessário para suportar as despesas do dia-a-dia mas que não roube demasiado tempo e energia ao freelancing.

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