O tempo passou num instante e, agora que dou por isso, faz hoje precisamente dois meses que comecei a dedicar-me exclusivamente ao freelancing. Já faço jornalismo por conta própria desde 2008, mas sempre como complemento a um trabalho como jornalista a full-time.
Desta vez, não. A coisa é séria, sem rede. Freelancing puro e duro. Para o bem e para o mal.
Pode parecer ridículo começar a fazer balanços tão pouco tempo depois - dois meses não é sequer uma daquelas apetecíveis datas redondas - , mas para um freelancer faz sentido, ou não fossem os primeiros tempos a verdadeira prova de fogo da profissão.
Ainda não pensei desistir nem uma vez (embora continue a responder aos anúncios que pedem jornalistas full-time...
just in case... não resisto...), mesmo quando me vi na iminência de não conseguir pagar as contas do mês. 60 dias depois... e até aqui... posso dizê-lo: sobrevivi e pretendo continuar.
Gerir o tempo
Apesar de a minha conta bancária mal dar por isso, a verdade é que trabalho não me tem faltado. Depois de um
mês particularmente difícil, as respostas começaram a chegar e pude pôr mãos à obra. Saber gerir o tempo é fundamental para qualquer jornalista, mas assume uma importância vital para quem é freelancer. Sem horários fixos é fácil sucumbir à preguiça e deixar tudo para amanhã. E é preciso ter em conta que só a primeira fase do trabalho - contactar entrevistados, marcar reportagens e reunir informação - absorve uma boa fatia do tempo disponível e não é difícil chegar-se àquele ponto crítico em que se começa efectivamente a escrever já muito em cima do deadline.
Continuo a não dispensar a agenda em papel e dois blocos de notas, mas neste departamento o Google Calendar tem-me dado uma ajuda preciosa: planear a semana, reservar horários para este e não para aquele trabalho, é não só uma maneira eficaz de controlar o tempo, como também uma gigantesca ajuda à concentração (tirei a tarde para a estória X, amanhã dedico-me exclusivamente ao artigo Y).
Separar as águas
Não há nada melhor que trabalhar em casa, especialmente naqueles dias de temporal. Mas, como tudo, também aqui há o reverso da medalha: facilmente se começa a misturar trabalho com vida pessoal. É claro que não há mal nenhum em pôr a máquina de roupa a lavar entre um telefonema e outro, mas o melhor mesmo é separar as águas, e isso implica, se possível, ter horários e áreas específicas para trabalhar. A mim bastou-me, por exemplo, definir a mesa da sala como zona de trabalho para ter dias mais produtivos. E estou proibida de levar trabalho para o sofá, a fronteira entre o meu escritório caseiro e a sala de estar.
Da mesma maneira, tento cumprir horários de almoço e outras pausas e - muito importante! - defino sempre um a dois dias de folga por semana (apesar de ser difícil desligar-me por completo, principalmente se tiver uma rede wireless por perto...)
Contactos on e offline
Cultivar e fazer a manutenção dos contactos
on e
offline tem sido essencial para que tudo corra sobre rodas. As ferramentas são mais que muitas e todas podem ajudar, conforme a situação: para além do e-mail, utilizo o Skype, as redes sociais e fóruns especializados. A tecnologia ajuda, mas não substitui o contacto pessoal: entrevistas por mail ou telefone só em último recurso. Aliás, é do contacto pessoal - com colegas de profissão, mas também com os amigos e pessoas das mais diversas áreas - que surgem muitas vezes as melhores estórias.
Atenção redobrada ao mundo
Na maior parte das vezes, cabe ao freelancer propor os temas que quer trabalhar ao editor. É por essa razão que é tão importante estarmos bem sintonizados com tudo o que se passa no mundo. Fazer uma boa revista de imprensa nacional e internacional dá uma boa ajuda neste departamento. Ainda mais importante que o tema em si, é a procura do ângulo da estória que deve orientar o trabalho.
Não há estória sem ângulo. Sendo freelancer, o jornalista deve ajustar as suas propostas às publicações com as quais trabalha. De nada adiantará propor um artigo de política a uma revista de moda, ou vice-versa.
Especialização
A especialização pode ser uma óptima forma de garantir um lugar ao sol no competitivo mundo do jornalismo. E se à primeira vista pode parecer um tremendo erro - o freelancer não deve ser um faz-tudo? -, tornar-se um expert em certas áreas pode fazer do jornalista uma referência nesses assuntos. No início, este conselho pode ser difícil de pôr em prática - poucos de nós se podem dar ao luxo de recusar seja que trabalho for -, mas tenho para mim que, com o tempo, a especialização (ou quase) se torna praticamente uma tendência natural e quase inconsciente. (Conto falar aqui sobre este tema em breve)
Investir
Não há nenhum trabalho por conta própria que não exija investimento. E o jornalismo freelance não é excepção. Investir na profissão pode passar pelo óbvio material de trabalho (computador, ligação à internet, gravadores, câmaras, etc...), pela carteira de contactos, presença online, formação específica ou mesmo pela reputação. Cada um saberá em que campos deverá apostar mais e como fazê-lo. O importante é investir. Sem investimento (tempo, dinheiro, energias, saber, experiência) não há qualidade nem valor acrescentado no nosso trabalho.
Ainda há muito a pôr em prática
O freelancer pode elevar quase tudo ao quadrado: sucessos, problemas e responsabilidades incluídos.
Sendo chefe de si próprio, fazer mais e melhor é uma obrigação a dobrar, que não deixa de estar ligada à ideia de investimento constante. Só sei que ao fim de dois meses, tenho mais itens na lista por cumprir do que quando comecei esta aventura.
E não poderia haver melhor sinal.